Você vai começar a ler o novo romance de Flávio Komatsu…
Ou talvez já esteja o lendo.
Ou talvez já esteja em outro link.
Ou talvez até acredite que já tenha chegado ao fim.
Romance hipertextual é assim mesmo: mais de um ponto de entrada, muitas ramificações internas e nenhum final bem definido. Quem garante que este é o início? Não há garantias. Não há paradigmas. O hipertexto ainda é terra de ninguém: ninguém escreve, ninguém lê. Publica só aquele que não tem nada a perder.
Minto?
Claro! É preciso me autoiludir. A verdade é que arrisco tudo, a perder meu leitor de vista – esse tão ninguém quanto eu que se bifurca pelos meus jardins.
Minto?
Claro! É preciso me autoiludir. A verdade é que arrisco tudo, a perder meu leitor de vista – esse tão ninguém quanto eu que se bifurca pelos meus jardins.
Eis minha autoria…
Minha?
Pois minha.
O autor não está morto, só te perdeu em meio aos escombros –e mesmo nessa perdição, tem meu cálculo de poesia. Esses caminhos narrativos, esses encontros dramáticos, quem mais senão eu que vem a te oferecer? Tuas escolhas, sim, mas do mundo que me fiz deus. O cargo estava vago; o mundo, fragmentado; e com um ou outro hiperlink, dei-lhe alguma coerência: esta! Que te ofereço. Estava aqui agora mesmo… É possível dar sentido a tudo que se deduz ser a obra de alguém.
E por que chamo de romance? Porque sou só um Flávio Komatsu: quem sou eu pra ir chegando com um novo gênero debaixo do braço? É preciso se filiar à tradição, nem que seja como filho bastardo. Esse tal de antigênero se fez colo aconchegante: tomo seu nome, reivindico o status e não hesito em jogar na lama. Sou romance não impresso. Sem registro em cartório. Volto para matar meu pai, que é a ficção contemporânea. E a seguir, desposar minha mãe, que é a ficção contemporânea. E então furar meus olhos, que também são a ficção contemporânea – e chega de referências, de reverências, de metáforas!
Por favor, encoste a porta e escolha a posição mais cômoda – é o que eu diria ao leitor disposto a estas palavras. Mas você, é provável que esteja no celular, retorcido sobre um sofá, indiferente ao arredor e entre mil abas em que sou só mais um… E tudo bem. Sem ressentimentos. Romance hipertextual é assim mesmo. Sou o culpado de tudo, inclusive desta crença: de aqui você é livre pra escolher o teu destino. Cabe a mim lhe oferecer o descaminho. A desordem do vivido. A angústia de um livre-arbítrio que deixa sempre a desejar.
Se acredito mesmo nisso?
Si, si, mas não me leve tão a termo. Não me conformo com grandes verdades e sou mais humilde do que pareço. Mas, afinal, existe algum deus ou tudo aqui é permitido? Nem tão dogmático, nem tão permissivo – assim como a vida, como a literatura… Literatura, sim, meu anjo: ou você tem outro nome pra isto?