Outro que foi, outro que fui, outro qualquer: destes já sabemos. Hora de encarar a merda... Um dia ameno, nublado, cinza iluminado, e a criança podia ser meu filho, tem o riso de um filho, filho querido que não ouso querer, não mais que um domingo, corre você atrás da criança, corre a criança atrás de você, percorrem-me risos, os ventos me trazem, folhas caídas no parque, o mundo sob meus cuidados, eu no encalço de dez passos, invisível, como a rotina, como a angústia em minha calma, o ódio não me hesita, sou guardião propenso ao sádico: todo o mal que tanto lhes temo, em mil pesadelos formulados, vou retalhando incansável... Vermelho, castanho, amarelo, ladrilhos folhosos de um curso secreto, minha vida tão certa entre as árvores, brecha em meio à camuflagem: a criança então em teus braços, então levada às alturas, voam, e teu sorriso me busca, sou teu cúmplice, teu resgate, torno ao chão e recomponho o disfarce, mas já é tarde, inevitável, jaz em mim sem ter passado: felicidade. Me flagro. Feliz no tempo presente, amor convicto, consciente, amava e sabia que amava no mesmo instante em que o amor se fazia, sentido da vida na palma da mão sem saber como escapar... Mas, como retê-lo, também não sabia, instante mesmo em que eu soube: um dia tudo há de acabar. Tão claro, tão líquido, precipitava em mim já nostálgico, encharcando remorso pelo instante que ia, sequer resistia, para o fim rumava, bem diante do teu sorriso, ali alheio, ali tão vívido, insuportável de tão lindo, pois ainda a salvo da descoberta que, trivial, ia se descobrindo: nem mesmo um filho nos salva do tempo, da ordem das coisas que mudam ou mofam, e assim vou desde já me afogando em meio às lágrimas que ainda não foram, bem diante do teu sorriso, ali tão vívido, ali tão doce, por quanto tempo? ainda há tempo? se eu assassinasse o tempo... Quem sabe minha alma não vendo? Eternidade pra dois, por favor! Mas de que me vale o eterno, se a felicidade não for... Mas de que me vale o eterno, se amor que não é nunca foi... Preso, para sempre preso, no presente do teu ainda sorriso, vai-se o tempo e eu fico, ou talvez, quem sabe se, do que eu sei, você também soubesse... Que você saiba então deste dia: eu era feliz e amava você. Irreversível. Mesmo diante da noite, mesmo tudo teimando em acabar um dia, para sempre eu era feliz e amava você neste ainda dia. Mas. Fora de mim. Fora da ordem do que eu sabia. Em você. Que jamais soube. Que sequer desconfiou. Em você foi o fim. A consciência do fim foi o fim. Sem perdão ao mensageiro, tomado por leviano. Toda felicidade então tomada por engano. E num instante já não era, nem parece que um dia foi, tão aquém veio parar daquilo que se vislumbrou. Miragens...