Pois eis meu terceiro suspeito: eu não esqueço. Nunca. Acho tudo tão significante, mas nem sempre foi assim... Tive uma vida pregressa e sutilmente devassa. Foi só
depois desse pedido singelo, que te levasse enfim a sério, que cada lapso se
verteu em agravo, uma de mancha de desamor. E cada mancha, de tempos diversos,
agora me alcançam ao mesmo tempo... Tempo presente. Tempo incessante. Tempo
enquanto eu sou. Meu futuro mal nasce e já se remói: você está sempre
por vir. E, reencarnada, me traz de volta. O outrora de nós que só eu vivi... Sei de você há eras e tudo já houve sob minhas trevas. Da entrega que
você anseia, ainda estou a me resgatar. Por isso calo. Não consinto. Mal
disfarço o desprezo. Tampouco me explico, amor que não te creio. Deixo a distância
tomar o quarto, tua noite se recolher pelo dia, com o olhar me desviando, me
desfazendo em miopia, cobertores e vertigens te refugiando da minha injustiça. Da incompreensão
de mim, vem tua inocência e teu sono: dorme, meu bem, que eu te amo. E amo
cheio de culpa.
(Já é para sempre)