Mas não. Não chore. Não é de todo mal, sequer é triste, juro. Confesso que fui mais um desses que não notam a presença das coisas, mas a falta, a perda, e não soube me importar com nada até que tudo anunciasse adeus. E é um alívio, sabe? Perder tudo com aviso prévio. No fundo de tudo, debaixo da tralha, agonizam as coisas guardadas para sempre. E para sempre é sempre depois. Para sempre é tarde demais. E tarde demais se faria, deixasse eu pra morrer de súbito. Souvenir urgente me faço, seis meses anunciados. Depois, meu bem, não adianta mais me guardar. Desguardo o tempo a tempo, vou desde já morrendo... Morro à disposição de toda a vida que me falta. Assim me cravo nas almas, vou me abrindo ferimento cego, a dor alheia massageando meu ego, desmedindo a lacuna da minha existência. Sei que você me julga... Um capricho desses a essa altura? Mas não se nega a um moribundo qualquer último prazer. E o prazer é matéria mútua: da falta que já me fazem, não deixarei a mínima dúvida.